O peso dos Aspectos Comportamentais nas Demissões Corporativas

No ambiente corporativo, é comum acreditar que a principal razão para um desligamento esteja ligada à falta de conhecimento técnico ou à baixa produtividade. No entanto, cada vez mais as empresas têm constatado que o verdadeiro motivo por trás da maioria das demissões está relacionado ao comportamento dos colaboradores.

Posturas inadequadas, dificuldade de relacionamento, resistência a mudanças e falta de alinhamento com a cultura organizacional pesam muito mais do que a ausência de uma habilidade técnica, que pode ser facilmente adquirida com treinamento.

Pesquisas de RH apontam que cerca de 80% dos desligamentos voluntários ou involuntários estão relacionados a problemas comportamentais (como dificuldade de relacionamento, falta de adaptabilidade, baixa colaboração ou postura inadequada).

Neste artigo vamos compreender por que os aspectos comportamentais superam as habilidades técnicas como causa de desligamentos.

1. O cenário atual do mercado de trabalho

O mercado de trabalho passa por transformações profundas, impulsionadas principalmente pela digitalização, pela globalização e pelas novas expectativas das gerações que ingressam nas empresas. Nesse novo contexto, as organizações perceberam que não basta contar apenas com profissionais altamente capacitados tecnicamente: é necessário que eles também apresentem comportamentos alinhados à cultura da empresa e habilidades socioemocionais que favoreçam o trabalho em equipe.

Com a automação de processos e a disseminação da inteligência artificial, muitas tarefas técnicas foram simplificadas ou até substituídas por tecnologia. Isso faz com que o valor agregado do profissional esteja menos no “saber fazer” e mais no “como fazer”: a forma como se comunica, se adapta às mudanças, resolve problemas e se relaciona com colegas e clientes.

Além disso, os ambientes corporativos se tornaram mais dinâmicos e colaborativos, exigindo profissionais com alta capacidade de adaptação, flexibilidade e inteligência emocional. A performance individual deixou de ser suficiente: hoje, o diferencial está na habilidade de contribuir para resultados coletivos sem comprometer o clima organizacional.

Em consequência, empresas passaram a avaliar seus colaboradores de forma mais ampla, considerando tanto competências técnicas quanto comportamentais. E, quando há desalinhamento entre postura e valores, a tendência é que o comportamento pese mais na decisão de desligamento do que eventuais lacunas de conhecimento técnico, já que estas podem ser corrigidas com treinamentos.

2. Principais aspectos comportamentais que geram desligamentos

Falta de trabalho em equipe: dificuldade de colaboração e comunicação.
Resistência a mudanças: profissionais que não se adaptam a novas tecnologias, processos ou estratégias.
Postura negativa: reclamações constantes, falta de engajamento ou comportamento tóxico.
Falta de responsabilidade/autonomia: não assumir erros, depender excessivamente de supervisão.
Problemas éticos: falta de transparência, quebra de confiança, descumprimento de normas internas.

3. Por que o comportamento é mais decisivo do que a técnica

Embora o conhecimento técnico seja indispensável para a execução das atividades, ele deixou de ser o principal fator determinante para a permanência de um profissional em uma empresa. Isso porque as habilidades técnicas podem ser aprendidas e aprimoradas com treinamentos, cursos ou acompanhamento no dia a dia. Já o comportamento, por estar relacionado a atitudes, valores, personalidade e postura diante de desafios, é muito mais difícil de ser transformado no curto prazo.

Além disso, o impacto de um comportamento inadequado vai além do desempenho individual: ele afeta diretamente a equipe, os clientes e até a imagem da empresa. Um colaborador com excelentes qualificações técnicas, mas que não sabe lidar com críticas, que gera conflitos constantes ou que não se adapta a mudanças, pode comprometer o clima organizacional e reduzir a produtividade coletiva.

Em contrapartida, um profissional aberto ao aprendizado e colaborativo pode crescer rapidamente em termos técnicos, desde que receba o suporte necessário.

Outro fator decisivo é o alinhamento cultural. As organizações modernas buscam pessoas que compartilhem de seus valores e visão de futuro. Quando há um desalinhamento comportamental — como falta de ética, resistência à inovação ou dificuldade em trabalhar em equipe —, a incompatibilidade se torna um obstáculo maior do que qualquer lacuna técnica.

Portanto, o comportamento pesa mais porque:

É mais difícil de ser desenvolvido do que a técnica.
Tem impacto direto no clima organizacional e na motivação da equipe.
Garante alinhamento com os valores e a cultura da empresa.
Define a capacidade do profissional de aprender, evoluir e se manter relevante em cenários de constantes mudanças.

Em um mercado que valoriza cada vez mais a colaboração, a inovação e a adaptabilidade, não é exagero afirmar que o comportamento é o que sustenta a carreira no longo prazo, enquanto a técnica é o que pode ser moldado ao longo da jornada.

4. O que as empresas podem fazer para evitar desligamentos comportamentais

Se os aspectos comportamentais têm sido a principal causa de desligamentos, cabe às empresas investir em estratégias que ajudem a identificar, desenvolver e alinhar essas competências desde o processo seletivo até a rotina de trabalho.

Um primeiro passo está na seleção por fit cultural. Mais do que avaliar apenas a formação acadêmica e a experiência técnica, as organizações precisam considerar valores, postura e estilo de trabalho dos candidatos. Entrevistas por competências, dinâmicas de grupo e testes de perfil comportamental são ferramentas eficazes para prever como a pessoa irá se relacionar com a equipe e com a cultura da empresa.

Outro ponto essencial é a prática de feedbacks contínuos. Muitas vezes, um comportamento inadequado pode ser ajustado se identificado de forma precoce e tratado com clareza. Reuniões de alinhamento, planos de desenvolvimento individual e avaliações de desempenho que incluam aspectos comportamentais ajudam a reduzir ruídos e evitar que pequenos problemas cresçam até se tornarem motivo de desligamento.

Além disso, investir em programas de desenvolvimento de soft skills (habilidades comportamentais e socioemocionais) é uma medida cada vez mais valorizada. Treinamentos em inteligência emocional, comunicação não violenta, gestão de conflitos e colaboração fortalecem habilidades que nem sempre são naturais, mas que podem ser desenvolvidas com o apoio certo.

O papel da liderança também é determinante. Gestores preparados não apenas para acompanhar resultados técnicos, mas também para observar atitudes, engajar equipes e atuar como exemplo de comportamento, conseguem criar um ambiente mais saudável e alinhado.

Por fim, é importante que a organização tenha uma cultura clara e transparente. Quando valores, objetivos e expectativas estão bem definidos e comunicados, fica mais fácil para os colaboradores entenderem o que é esperado em termos de conduta, reduzindo riscos de desalinhamento.

Assim, ao adotar práticas consistentes de recrutamento, desenvolvimento e gestão, as empresas não apenas reduzem desligamentos por comportamento, como também fortalecem equipes mais engajadas, produtivas e alinhadas aos seus propósitos.

Conclusão

Os desligamentos motivados por questões comportamentais mostram que, no mercado de trabalho atual, não basta dominar técnicas ou acumular certificações. O verdadeiro diferencial está em como o profissional se posiciona, interage com colegas e clientes e se adapta às constantes transformações do ambiente corporativo.

Enquanto as habilidades técnicas podem ser ensinadas, o comportamento exige um processo mais profundo de autoconhecimento, maturidade emocional e alinhamento de valores. É justamente por isso que empresas passaram a olhar além do currículo e investir no desenvolvimento das chamadas soft skills, compreendendo que são elas que sustentam relacionamentos saudáveis, colaboração e inovação.

Para os profissionais, a mensagem é clara: tão importante quanto manter-se atualizado tecnicamente é desenvolver competências comportamentais que promovam engajamento, ética e capacidade de adaptação. Já para as organizações, o desafio está em criar processos de seleção, gestão e desenvolvimento que valorizem atitudes e comportamentos alinhados à sua cultura.

Em última análise, a combinação entre técnica e comportamento é o que garante carreiras mais sólidas e equipes mais produtivas. Mas, diante das transformações do mercado, fica evidente que é o comportamento que sustenta a permanência, enquanto a técnica pode sempre ser aprendida ao longo do caminho.

É fundamental mencionar a importância das empresas oferecerem um ambiente de trabalho mais seguro, acolhedor e eficiente. Ao valorizar o bem-estar emocional, as empresas se diferenciam no mercado de trabalho, constroem equipes mais resilientes e capacitadas para enfrentar desafios diários.

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