Com a sanção da Lei Complementar nº 214, de 16 de janeiro de 2025, que estabelece as bases da Reforma Tributária brasileira, uma das mudanças mais significativas para empresas e profissionais contábeis é a implementação do Split Payment — ou pagamento fracionado.

Este novo modelo promete revolucionar a forma como os tributos são recolhidos no país, impactando diretamente o controle de caixa e o planejamento financeiro das empresas.

Neste artigo, você vai entender o que é o Split Payment, como ele funciona na prática, como calcular corretamente no seu fluxo de caixa, e quais preparativos são indispensáveis para adaptar sua empresa ao novo cenário tributário.

O que é Split Payment?

O Split Payment é um modelo de recolhimento tributário em que o valor dos impostos é automaticamente separado e retido no momento da transação comercial. Ao invés de a empresa receber o valor bruto da venda e posteriormente recolher os tributos ao governo, o sistema já realiza essa retenção automaticamente — e apenas o valor líquido é repassado ao vendedor.

O modelo será composto por estes tributos principais:

  • IBS (Imposto sobre Bens e Serviços): de competência estadual e municipal
  • CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços): de competência federal
Estes tributos substituirão gradualmente PIS, Cofins, ICMS, ISS e parcialmente o IPI.

Como calcular o Split Payment no fluxo de caixa?

Embora o cronograma oficial esteja definido, as alíquotas específicas ainda estão sendo regulamentadas pelos órgãos competentes. O conceito de cálculo é direto, mas seu impacto no fluxo de caixa é significativo e requer atenção especial no planejamento financeiro.

Passo a passo para calcular:

  1. Determine o valor bruto da venda
  2. Identifique as alíquotas aplicáveis:
    • As alíquotas específicas serão definidas pela regulamentação complementar
    • Podem variar conforme o produto/serviço e região
  3. Calcule o valor total dos tributos:
    • Valor da venda × Alíquota total (IBS + CBS)
  4. Determine o valor líquido a receber:
    • Valor bruto - Tributos retidos automaticamente
  5. Registre o valor líquido no fluxo de caixa
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Exemplos práticos de cálculo:

Importante: As alíquotas utilizadas nos exemplos abaixo são meramente ilustrativas e hipotéticas, servindo apenas para demonstrar a metodologia de cálculo. Os valores oficiais serão definidos nas regulamentações complementares futuras.

Exemplo 1 — Venda de produto:

  • Valor bruto: R$ 8.000,00
  • Alíquota total hipotética (IBS + CBS): 18%
  • Tributo retido: R$ 8.000 × 0,18 = R$ 1.440,00
  • Valor líquido no caixa: R$ 6.560,00

Exemplo 2 — Prestação de serviço:

  • Valor bruto: R$ 15.000,00
  • Alíquota total hipotética aplicada: 25%
  • Tributo retido: R$ 15.000 × 0,25 = R$ 3.750,00
  • Valor líquido no caixa: R$ 11.250,00

Nota importante: As empresas devem fazer todo o planejamento financeiro considerando os valores líquidos recebidos, não mais o total bruto das vendas. As alíquotas específicas ainda serão definidas por regulamentação complementar.

Como integrar fluxo de caixa ao controle de vendas e estoque?

Com a entrada em vigor do Split Payment e a retenção automática de tributos, torna-se ainda mais essencial integrar o controle de caixa às áreas de vendas e estoque.

Veja como essa integração pode ser feita de forma eficiente:

  • Controle de vendas
    Ao registrar uma venda, o sistema já deve calcular o valor líquido da operação e lançá-lo no fluxo de caixa. Isso evita distorções e mantém o saldo sempre atualizado.
  • Atualização de estoque
    A baixa de produtos no estoque precisa ocorrer simultaneamente à finalização da venda. Dessa forma, a empresa tem visão real do custo operacional e pode antecipar necessidades de reposição com base em dados financeiros e logísticos combinados.
  • Análise cruzada de dados
    Com o fluxo de caixa integrado ao módulo de vendas e estoque, é possível gerar relatórios que cruzam informações sobre volume de vendas, margens líquidas e movimentações de produtos.
  • Planejamento mais preciso
    Com os dados unificados, o gestor consegue tomar decisões com base na realidade operacional e financeira da empresa — considerando a entrada líquida no caixa, o giro do estoque e o desempenho por tipo de produto ou serviço.

Sistemas como o Simplifique já permitem esse tipo de integração completa, conectando os módulos de vendas, financeiro e estoque em uma única plataforma. Isso garante mais agilidade, segurança e controle sobre a operação como um todo.

Diferenças entre Split Payment e gateway de pagamento tradicional

É fundamental distinguir o Split Payment dos modelos de intermediação financeira dos gateways de pagamento, pois são mecanismos completamente diferentes:

Característica

Split Payment

Gateway de Pagamento

Natureza

Mecanismo fiscal obrigatório

Serviço de intermediação financeira

Função principal

Recolher tributos automaticamente

Processar transações de pagamento

Retenção tributária

Automática pelo sistema fiscal

Empresa recolhe separadamente

Valor repassado

Líquido após retenção fiscal

Bruto menos taxa de intermediação

Controle fiscal

Integrado ao sistema tributário

Independente da tributação

Obrigatoriedade

Legal a partir de 2026

Opcional (escolha da empresa)

O Split Payment é uma exigência legal da nova estrutura tributária, enquanto gateways são ferramentas tecnológicas para facilitar pagamentos.

Impactos no controle do fluxo de caixa

A implementação do Split Payment representa uma mudança paradigmática no controle financeiro empresarial. As principais transformações incluem:

Antes do Split Payment:

  • Recebimento do valor integral das vendas
  • Recolhimento posterior dos tributos
  • Flexibilidade no uso temporário dos recursos
  • Risco de inadimplência fiscal

Com o Split Payment:

  • Recebimento apenas do valor líquido
  • Recolhimento automático e instantâneo
  • Necessidade de maior precisão no planejamento
  • Eliminação do risco de inadimplência fiscal
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Impactos diretos no fluxo de caixa:

Capital de giro: Redução imediata do dinheiro disponível, exigindo revisão de prazos e políticas de crédito.

Planejamento orçamentário: Todas as projeções devem considerar valores líquidos como base de cálculo.

Precificação: Revisão necessária para manter margem de lucro desejada considerando o valor líquido recebido.

Investimentos: Capacidade de investimento deve ser reavaliada com base no fluxo líquido real.

Estratégias para o planejamento tributário

Com o Split Payment, o planejamento tributário ganha nova dimensão. O contador e o gestor financeiro precisam trabalhar em conjunto para:

Análise de impacto:

  • Simular o efeito das novas alíquotas no faturamento líquido
  • Avaliar necessidade de ajustes no capital de giro
  • Revisar políticas de precificação e margem de lucro

Adaptação operacional:

  • Reestruturar processos de faturamento
  • Treinar equipes comerciais sobre valores líquidos
  • Ajustar sistemas de comissionamento de vendas
  • Revisar contratos com fornecedores e clientes

Controle e monitoramento:

  • Implementar indicadores baseados em valores líquidos
  • Criar alertas para variações significativas no caixa
  • Estabelecer rotinas de conciliação fiscal-financeira

Oportunidades e desafios

O Split Payment, apesar dos desafios adaptativos, traz oportunidades significativas:

Oportunidades:

  • Maior previsibilidade: Eliminação de riscos de inadimplência fiscal
  • Simplificação operacional: Redução de obrigações de recolhimento
  • Melhoria na gestão: Maior precisão no controle financeiro
  • Competitividade: Vantagem para empresas bem preparadas

Desafios:

  • Impacto no capital de giro: Necessidade de revisão do fluxo de caixa
  • Adaptação tecnológica: Investimento em sistemas compatíveis
  • Capacitação: Treinamento de equipes para nova realidade
  • Planejamento: Revisão completa de estratégias financeiras

Como o Simplifique facilita a adaptação ao Split Payment

O sistema Simplifique foi desenvolvido para acompanhar as transformações da Reforma Tributária, oferecendo funcionalidades específicas para o Split Payment:

Funcionalidades principais:

Fluxo de caixa inteligente: Controle financeiro com base em valores líquidos, proporcionando visão real da situação de caixa.

Conciliação integrada: Conciliação bancária automatizada com identificação clara dos valores líquidos recebidos.

Relatórios especializados: Demonstrativos financeiros e fiscais adaptados ao novo modelo tributário.

Atualizações legislativas: Sistema atualizado automaticamente conforme regulamentações complementares.

Suporte especializado: Equipe treinada para orientar na transição e adaptação dos processos.

Benefícios para a gestão:

  • Redução de erros de cálculo tributário
  • Maior precisão nas projeções financeiras
  • Relatórios gerenciais completos
  • Integração completa entre fiscal e financeiro

Conclusão

O Split Payment representa uma mudança estrutural no sistema tributário brasileiro. Ele elimina etapas intermediárias, reduz riscos fiscais e traz mais previsibilidade para o governo — mas também exige das empresas um novo olhar sobre seu fluxo financeiro.

O sucesso na adaptação a essa nova realidade depende de planejamento, organização e da escolha de ferramentas que ofereçam controle e automação.